Esses dias comecei a construir um violão com cordas de aço (Triple-O) e o nosso cliente ficou curioso a respeito dos motivos que não se deve utilizar cordas de aço em um violão clássico ou flamenco, entre outras questões. O bate-papo seguiu por inúmeros caminhos, como os aspectos de estética sonora e musical dos segmentos que utilizam estes instrumentos; o peso da tradição no uso de determinados materiais, como as cordas de tripa até a chegada dos inúmeros tipos de polímeros artificiais em monofilamentos e multifilamentos revestidos; até chegar nas características estruturais dos instrumentos musicais voltados para cada uso.
Quando se trata da construção de violões acústicos, o padrão das estruturas internas, ou, como também são chamadas, barras harmônicas, é um fator crucial na determinação da qualidade sonora do instrumento e também na sua natureza e finalidade. Curiosamente este é um aspecto que poucos leigos se atentam, inclusive músicos. O fato de ser algo "invisível aos olhos" também gera muitas "imprecisões" e dificuldade para mestrandos e doutorandos em musicologia, que, quando não possuem formação específica, geralmente buscam associar cordofones de diferentes estruturas e diferentes contornos a uma mesma família, ignorando essas características estruturais e estéticas que são, de fato, o que determina a sua natureza e origem. Apesar de algumas similaridades - e até mesmo "nomes parecidos" -, são como "parentes distantes" ou, não raramente, apenas "desconhecidos com o mesmo sobrenome" devido a uma origem remota similar no universo da organologia.
Quando desbravamos o "mundo dos violões de aço", nos deparamos com um tipo de estrutura bastante adotada por luthiers e fabricantes ao redor do planeta Terra: o suporte X. Existem algumas variações como a tradicional, estabelecida num período pré-guerra no final do século XIX e começo do século XX, passando pela variação do X-bracing deslocado para frente, posicionado bem próximo da boca do instrumento. Por menores que sejam essas variações, cada uma delas irá impactar de forma determinante as características timbrísticas e respostas sonoras do instrumento em questão.
O BÁSICO DO QUE SE DEVE SABER SOBRE O X-BRACING.
X-bracing é uma tradicional estrutura fundamental usada na construção de violões. Se baseia em duas braçadeiras em forma de X dentro da caixa de ressonância, proporcionando resistência e suporte ao tampo do violão, ao mesmo tempo que permite que ele vibre e produza som. Tradicionalmente, o suporte em X era posicionado não tão próximo da boca do instrumento, conhecido como estrutura padrão ou estrutura de instrumentos do pré-guerra. Com o passar dos anos, alguns construtores começaram a adotar essa estrutura em forma de X levemente deslocada para frente, se aproximando da boca do instrumento. O posicionamento e a "abertura" destas braçadeiras varia de construtor para construtor, mas o conceito se mantém o mesmo: a estrutura em forma de X.
Via de regra, quanto mais próximo da boca o centro do X é posicionado, teremos uma sonoridade mais viva e aberta com notas mais definidas. Quanto mais recuado temos o posicionamento do X, a sonoridade será mais forte, fechada e encorpada.
Logicamente outros fatores irão determinar o resultado final sonoro do violão, mas dominando este conceito, o luthier poderá realizar uma leitura da matéria-prima utilizada, compreender suas características tonais, capacidade de elasticidade e resistência para, assim, definir a voz do instrumento através do posicionamento do X, por exemplo.
Além do tradicional X-bracing, existem outros padrões que foram desenvolvidos, especialmente no final do século XX, sejam eles propostos pela grande indústria ou por luthiers que trabalham essencialmente com instrumentos de autor, sempre buscando aprimorar a qualidade do processo de "voicing" para privilegiar aspectos de projeção, volume e/ou definição de notas. Como exemplo, podemos citar o V-Class Bracing proposto pela Taylor, e o Falcate bracing desenvolvido pelo australiano Trevor Gore.
Mas estes são assuntos para outros futuros artigos.
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